21.12.11

Beba-me! Alice, o Chapeleiro e o Chá

Que importância tem o chá das cinco?
Nenhuma! Afinal, não somos Britânicos
Ainda bem que não somos
Imagino que eles não sabem o que é uma flor de quiabento
Tão exuberante quanto a força do seu espinho
Não saber o vigor de uma umbuzada tomada em pote de barro
Tão pouco sabem o sabor de uvas e goiabas frescas, protegida por flor vermelha
Dentro de uma xícarazinha de esmalte
Não sabem o gosto de catar frutinhas frescas escondidas numa fornada quente de panetone
Biscoitinhos caseiros embanhados em forno de barro
Cheiro de chá à luz de velas
E a riqueza incalculável de suas histórias, minhas histórias...
Suas histórias e minhas histórias
Quero chá todos os dias
Adoçado com melaço de cana
E o mais nobre agradecimento divino


20.12.11

Primeira Classe

"E essa sua segunda-feira foi de Primeira classe, conforme você merece sobrevoar, Boneca borboleta?"

Só na primeira classe tem passarinho azul!
Só na primeira classe tem caixa com promessa à luz de velas
Meu segundo nome desenhado cuidadosamente na poltrona
Cheiro de frutas frescas guardadas dentro de um panetone
E letras que escorrem depois de desamarradas por um lacinho vermelho

19.12.11

Quem é você?

Você é quem rouba a rima
Você é quem leva minha poesia para brincar longe de mim
Você é "a cicatriz corrosiva marcada em carne viva"
Você é a metáfora da pedra pura
Sem cor, sem minha platéia e sem mistura


14.12.11

Ela. A boneca

Era uma vez uma boneca de sal. Embora fosse de sal, nunca tinha visto o mar. Por isso, um dia, deixou a sua terra e pôs-se a caminho em direcção ao mar.
Depois de percorrer muitos quilómetros, chegou finalmente ao final da viagem. Ficou fascinada por aquela imensidão de água a perder-se no infinito. Nunca tinha visto uma coisa assim tão grandiosa. Mas seria isso o mar? Por isso, perguntou:
-Quem és tu?
Com um sorriso, o mar respondeu:
-Entra nas minhas águas e comprova-o tu mesma!
e a boneca de sal meteu-se no no mar. Mas, à medida que avançava nas águas, ia derretendo-se, até que dela nada ficou.
Mas, antes de se dissolver completamente, exclamou maravilhada:
-Agora sei quem sou!
( Anthony de Mello)